terça-feira, 12 de junho de 2007

Uma história diferente

Na maternidade partilhei o quarto com outra mãe, 3 anos mais velha do que eu, que a certa altura da vida, ela e o marido, decidem embarcar na aventura que é colocar mais uma criança neste mundo. Como entrei a meio da noite no quarto, ela e a bebé estavam a dormir e por essa razão não nos apresentamos logo, não trocámos palavras, confesso que nem sequer reparei muito nelas de tão cansada, confusa, contente, etc, etc, que estava.
Então, é uma história idêntica a milhares, dizem vocês. Mas não o é, não mesmo.
No Domingo de manhã, depois de acordar e de dar um beijo no bebé mais lindo, o Tomás, claro, olho para elas e digo bom dia. Recebo um bom dia de resposta e a pergunta que todas acabamos por fazer:
Como correu?
Contei como tinha corrido a minha noite, e ela descreveu-me o nascimento da filha, que a certa altura entrou em pânico, o parto prolongou-se, a bebé não saía e tiveram mesmo de recorrer aos fórceps. Mas ambas estavam bem. Havia um dia e meio de diferença entre os nossos filhos.
Durante a conversa, reparei que ela nem sempre olhava para mim e quando o fazia não me olhava nos olhos, mas não deduzi logo o que isso poderia significar. A certa altura diz-me: “Eu e o meu marido lutámos contra a vontade de muita gente, familiares inclusive, quando decidimos ter um filho. Nós somos os dois cegos e a maioria das pessoas pensam que o que fizemos foi uma loucura.”
Nem sabia o que dizer, acho que fiquei uns segundos calada, depois acabei por dizer: “E ela? Os médicos já disseram alguma coisa?” É cedo ainda, mas durante o primeiro trimestre de vida vamos ficar a saber, por enquanto nós acreditamos nos 50% de hipótese que nos deram.
Eu estava pasma com tudo. Minutos antes eu vi-a ir à casa de banho, vi-a mudar a fralda, a dar de mamar… … tudo tão natural, tudo tão bem, tudo com tanta confiança.
Claro que ela se apercebeu do meu “pouco à vontade”, da admiração com que fiquei por a saber cega e vê-la a cuidar tão bem da filha, tão segura, mais até do que eu... A única vez em que a vi mais nervosa, foi no momento do primeiro banho e vi que lhe caiu uma lágrima, não por pensar que não era capaz, duvido que tal pensamento lhe passasse pela cabeça, mas por medo que os outros pensassem que não fosse capaz!
Esta semana tenho lembrado bastante dela. Como será que estão a correr as coisas? Será que a filha consegue ver? Como será que ela viveu estes 3 meses?
Se para mim foi tão difícil o primeiro mês, por me sentir tão insegura, por estar tão mal preparada para cuidar de uma criança, por não conseguir dormir, por não saber o que fazer para o Tomás deixar de chorar, por tanta coisa; como seria com ela?
Não imagino o que é viver sem ver. Sem ver a cara do nosso filho, os sorrisos que ele dá quando olhamos e falamos com ele, sem ver se ele é lindo ou assim mais para o normal, sem ver o seu crescimento, enfim sem ver…
Às vezes preocupamo-nos com coisas tão superficiais, lamentamos tanto aquilo que não temos e esquecemos de agradecer aquilo que temos. Eu sou assim um bocado. Ainda bem que me deparo com momentos destes e pessoas especiais que me fazem lembrar que Lhe tenho que agradecer.

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